sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Poemas sociais

             Entusiasmo 
                                                               Oziney Cruz

Eis o fim do caminho bradando á porta!
Com seu gesto inescrupuloso de ternura.
Debalde com a dúvida como realidade
Pela nevoenta e confusa vida na fissura
                     Da verdade...

Atado pela mesma força, mesmo grilhão,
Mesmo medo, mesmo vazio de sentimento
Estão á noite vagabunda de estrelas caídas
Os nomes crestados no estéril conhecimento
                     De suas vidas...

Largadas ao desânimo vil das poltronas...
Ao leito de ouro feito de risos amarelados,
Embriagando-se da mentira escarrada
Alimentando-se do eco de surdos brados
                    Pela vã estrada...

Eis o tempo de nosso tempo morrendo!
Eis a indiferença pela praça a formigar,
Eis a fome mais ridícula de toda a riqueza
Do rei de cada dia, da súbita dor de sangrar
                   Pela fugaz beleza...

De tudo aquilo que nos foi emprestado,
De tudo aquilo que irá se denegrir,
Que por entre os dedos da morte luxuosa
Virá por outro nome e trará sede de rir,
                 De toda essa glória!
                   
 
      Tempos modernos 
                                                            Oziney Cruz

Ah! Tempos modernos de eletrônica certeza
Até onde vais com tua cobiça venenosa?...
Irás ter com as armas ou com a pouca gentileza
Que resta-lhe escondida camuflada na prosa?

Onde estará o encanto da aurora e do crepúsculo?
E das brisas que erguem o aroma de nosso verde?
O céu todo estrelado e dos gritos o alígero pulo!
A beleza de um, uni-se ao cantor de um flerte.

Navegas por redes longícuas de conhecimento
Com o mundo todo bem perto das mãos e olhos!
Mas conheces o afago mimoso de um vento
Ou das águas de um rio? Ou apenas os corvos?...

Ah! Que desejo de ter visto os tempos idos...
Onde havia-se nos Homens vida e não esta farsa!
Não havia tanta velocidade nem tantos ruídos
Mas em tudo usava-se a imaginação e a graça.

E as crianças que encenam esta vital comédia
Com qual idade descobrem as tentações?
Onde será que aprendem esta lição etérea...
Que de sublime faz virar-se em maldiçoes?

E o que oferece-nos esta evolução sem tino?
Quantas novas formas de morrer inventarão?
E quem irá comandar os povos a pino?
Espero que não tenha um “chip” no coração...



           O poeta... 
                                                        Oziney CRuz


Tenho por riqueza o meu canto e meus versos,
Não cobre-me o corpo ricas vestes formosas,
Nem passeios garbosos tenho de costume
Tenho no peito mil canções amorosas.

Tenho a noite como inspiração popular
E o leito para férteis sonhos idealizados,
Nua e pronta a servir-me, tenho a imaginação
Dia a dia borbulhante sem espaços vagos.

As nuvens cobrem-me nas andanças
E no peito tenho uma caverna sufocante,
Admiro o céu e a natureza de belas artes
E tenho sempre o dia e a noite incessante.

Mora em mim a paixão de dias já vividos
Ocultos na timidez da mocidade de outrora,
Já não durmo em cama todos os dias
E hoje muito preocupo-me com a hora.

Não possuo formosura, sou magro e estranho,
Mas não há beleza que ao caráter seja suplente!
Porque quem tanto vive no frio da carência,
Espanta-se ao calor de um afeto quando o sente.

Tenho por castelo a alcova que está distante,
Tenho por orgulho, respirar o ar da pátria,
Tenho no peito sentimentos de mil variedades,
Tenho na vida e no amor uma chama solitária.

Na vida boa estatura e bom coração pude ter,
De nenhuma profissão venturosa apoderei-me,
Amei e fui amado em uma terra em desespero
Na qual escolhi as sementes erradas que plantei.

Mas, contudo, tenho o mais rico dos tesouros:
O amor divino que não vê-se na riqueza!
E quem possuir tal sublime sentimento,
Não vivera dos homens a terrível pobreza.


     Onda popular... 
                               A Salinas MG
                                                        
                                                       Oziney Cruz

Ouço as vozes afora de minha casa
Que tanto dizem sem dizer nada...
Gritam umas! Outras baixas sussurram!
Passeiam sobre as calçadas pés quais queres
E levam consigo moças e moleques
E novos e velhos que entre si lutam.

As ruas em clarão nas peripécias se vão
Ricos e pobres, feios e belos cá estão!
Trazem na face mil sorrisos mentirosos,
No céu os astros luminosos os presenteiam
Mas não vêem e simplesmente rejeitam
O belo passeio dos corpos celestes garbosos.

Quem os dirá por ventura sé é certo ou não?
O ancião que do repouso hoje não abre mão?
Ou o jovem que pranteia a sós no leito?
Ambos em outros tempos cá viviam...
No silêncio de uns jaz o alvoroço que tinham
E quando tardas o sono... Usam de outro meio.

Já ouve-se a agitada vida desde mui cedo!
Pernas que vem, pernas que vão sem medo,
Os segui outrora e agora nada restou...
Mas já acostumei-me com a ausência de tudo
Nem sei se restará ao menos um fruto...
Quando nem mesmo sei o que ficou...

Na praça rugem os gritos e aplausos...
Mas não é pelo chão que pisam__ os brados,
Nem por descontentamento algum...
Apenas aglomeram-se e fazem dos ideais
Peça de museu sem serventia jamais
Em um tempo sem mérito nenhum.

Sou de ti filho adotivo há tempos
E cresci-me aqui com a face aos ventos,
Hoje moldou-se em mim um pensamento:
Não quero desta falsa vida pertencer!
Nem da hipocrisia mérito algum merecer
Quero apenas ter-te com puro sentimento.





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