Capítulo I
A história

Antes que inicie a leitura deste livro caro leitor, quero que saibas que não lerás uma história criada simplesmente para figurar as páginas dês-te. Aqui se dispersará vida já vivida, fatos e atos já vistos por muitos de
minha companhia; momentos dos quais não consigo ver-me livre.
Certo dia, ao voltar para casa quando já iniciava-se a noite, encontrei-me com um amigo da época das aulas de música. O reconheci por acaso em uma esquina a alguns quarteirões da minha casa, estava ele apenas a andar enquanto eu pretendia por em prática um terrível ato já há muito planejado.
O cumprimentei com um tom meio abatido e com um gesto de mão preguiçoso, enquanto sorridente começou ele logo a dizer-me com pompa:
_ Como vais Vítor? Estás igual a uma moeda de ouro!
_ Estou quieto e reservado em casa_ respondi com um sorriso tépido e movendo a cabeça vagarosamente.
Infelizmente, há muito tempo não o via e acabei por assim esquecer-lhe o nome, mas prometo lembrar-me antes que termine esta história.
Falando em história! Sentamo-nos em um banco numa pequena praça próxima dali para colocarmos as conversas em dia; muita coisa sobre emprego, velhas lembranças e novidades fora dito, até que ele perguntou-me sobre certo nome... Certa história que sabia ele pelas beiradas e que veio-lhe de repente à mente.
Disse-lhe meio de cabeça baixa e com um tom de desconforto que a história havia ocorrido há alguns anos e que era meio complexo e que havia escrito-me novas páginas na vida. Fiz um semblante negativo quanto a continuar com o assunto quando ele atalhou-me no pensar e disse antes:
_ O que há meu amigo? Não parece bem, anda por acaso meio enfermo?
_ Não, só estou fadado de algo.
_ Do que?
_ Deixa pra lá!_ disse forçando um risinho sem graça.
_ Conte-me! Há quanto tempo lhe conheço Vítor?
_ Há bastante tempo creio eu!
_ Então fale-me, o que lhe traz tanto abatimento no rosto?
Fiz um gesto meio que sim... Meio que não... Afinal de contas eu andava confuso e não sabia por onde começar. Então soltei um suspiro e cruzei as pernas em X para soltar um desabafo, uma vida, uma história que naquela noite queria eu enterrar. Contei-lhe em partes e senti com quão grande comoção ele pronunciou suas próximas palavras:
_ Nossa! Isto realmente aconteceu?
_ Um pouco mais... Mas é só isto que lhe direi. Pois tenho uma grande tarefa a realizar ainda hoje.
_ O que é?
_ Pare de ser curioso! Irás saber.
_ Vítor... Você está muito estranho...
_ Como pode dizer isso. Há tanto tempo que não nos vemos! Aquilo que fui eu não sou mais meu caro amigo. Adeus!
_ Espere um pouco!_ Disse-me ele puxando o casaco, enquanto levantava-me para sair.
Ao despedir-me dele, cada passo em meu trajeto ecoava um pensamento, uma visão, uma voz! Decidi de súbito deixar tal história arquivada, não somente na memória do meu amigo, mas sim, como algo póstumo! Muitos têm a sua e eu, teria apenas isso para deixar. Mas o que leva-me a escreve-la não são os comentários nem a intenção de emocionar a quem quer que seja. Escrevo-a pois o cérebro teimou em despeja-la a qualquer custo! Tu que a lerás, não mofas do sentimentalismo, nem da inocência e muito menos da atmosfera sonhadora que paira sobre estas páginas! Coloco o meu último sopro em suas mãos!

o mostrar que é meu coração.

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