A um velho conhecido
(Oziney Cruz)
Eu quero esse querer que tanto quer
Que
aturdido na esperança escreve a jornada,
E
que se firma após o trago amargo de sua doçura,
Após
o aperto de mão sorridente e mentiroso.
Eu quero esse querer que sempre quis
Que
sempre externou o passado,
Que
sempre voou nos mais extremos ais
Que
melindrosamente esquiva-se do beijo alcoviteiro
E
vorazmente lhe despeja as palavras...
Que tanto querem esse querer
Que
tanto matam esse quer...
Relato de um vivente
(Oziney Cruz)
Há uma calmaria nessa tempestade
Um
suspiro tardio que não se ouvia,
Há
um despejo tumultuoso nesse pensamento,
Uma
ebulição por entre a veia na sangria,
Por
entre os arranhões nas palavras
Por
entre os arranhões nos contornos.
Há
uma calmaria nessa tempestade.
Um
desleixo aproveitador
Uma
confusa confusão, um desperdício!
Há
inércia nesse atropelado movimento
Na
partida que também é chegada, nesse vicio
De
viver o vivido, nesse caos controlado.
Há
deveras, uma calmaria nessa tempestade.
Que
faz dormir no embalo da graça
Que
faz acordar no destilar da perda,
Onde
o estéril já faz fértil a modo qualquer
Nas
poças e degraus na faceta
Diária
de nos ganhar, de se conquistar.
Há
contudo, uma calmaria nessa tempestade.
Há um visor embasado sob essa pálpebras,
Há
um som, um suspiro, talvez um gemido.
Mas
sim, há uma calmaria nessa tempestade.
A casa
inabitada
(Oziney Cruz)
E de forma sutil, cruel e bela
As margens do pensamento
Vieram-lhe a sorrir sob as
possibilidades
Da imaginação astuta do
esquecimento,
Que vive sobre as causas
humanas mordazes.
Depara-se na dualidade de ti
mesmo,
Sem o sabor da verdade
diária...
Como a lápide da transparência
que fuçada
Pelas narinas da humanidade
mortuária
Vê-se no confronto da ideia
entrelaçada.
Mora-te em mim, em espaço
algum
No meu morar em tua fortaleza
fiel,
Que jaz debruça neste
atropelado desmereço
Que separa, cria duas feras de
agir cruel,
Que amam, que odeiam as faces
tortas do começo.
Então, tateie sobre a tênue
tez da indagação,
Dessa dúvida que cresce e
decresce
Do afago de antes, sepultado
na novidade,
Cuspido pela boca que amava e
já desmerece
O acalanto da íntima certeza
da realidade.
Seja breve, sutil, cruel e
belo
Os espectros infindos da
necessidade
De nossos amparos, de nossas
virtudes e anseios
Confrontados pela animalesca
realidade
Dos anjos e demônios que
habitam os desejos.
Um Rabisco Pela Janela
(Oziney Cruz)
A um velho conhecido
(Oziney Cruz)
Eu quero esse querer que sempre quis
Que tanto querem esse querer
Relato de um vivente
(Oziney Cruz)
Eu quero esse querer que tanto quer
Que
aturdido na esperança escreve a jornada,
E
que se firma após o trago amargo de sua doçura,
Após
o aperto de mão sorridente e mentiroso.
Eu quero esse querer que sempre quis
Que
sempre externou o passado,
Que
sempre voou nos mais extremos ais
Que
melindrosamente esquiva-se do beijo alcoviteiro
E
vorazmente lhe despeja as palavras...
Que tanto querem esse querer
Que
tanto matam esse quer...
Relato de um vivente
(Oziney Cruz)
Há uma calmaria nessa tempestade
Um
suspiro tardio que não se ouvia,
Há
um despejo tumultuoso nesse pensamento,
Uma
ebulição por entre a veia na sangria,
Por
entre os arranhões nas palavras
Por
entre os arranhões nos contornos.
Há
uma calmaria nessa tempestade.
Um
desleixo aproveitador
Uma
confusa confusão, um desperdício!
Há
inércia nesse atropelado movimento
Na
partida que também é chegada, nesse vicio
De
viver o vivido, nesse caos controlado.
Há
deveras, uma calmaria nessa tempestade.
Que
faz dormir no embalo da graça
Que
faz acordar no destilar da perda,
Onde
o estéril já faz fértil a modo qualquer
Nas
poças e degraus na faceta
Diária
de nos ganhar, de se conquistar.
Há
contudo, uma calmaria nessa tempestade.
Há um visor embasado sob essa pálpebras,
Há
um som, um suspiro, talvez um gemido.
Mas
sim, há uma calmaria nessa tempestade.
A casa
inabitada
(Oziney Cruz)
(Oziney Cruz)
E de forma sutil, cruel e bela
As margens do pensamento
Vieram-lhe a sorrir sob as
possibilidades
Da imaginação astuta do
esquecimento,
Que vive sobre as causas
humanas mordazes.
Depara-se na dualidade de ti
mesmo,
Sem o sabor da verdade
diária...
Como a lápide da transparência
que fuçada
Pelas narinas da humanidade
mortuária
Vê-se no confronto da ideia
entrelaçada.
Mora-te em mim, em espaço
algum
No meu morar em tua fortaleza
fiel,
Que jaz debruça neste
atropelado desmereço
Que separa, cria duas feras de
agir cruel,
Que amam, que odeiam as faces
tortas do começo.
Então, tateie sobre a tênue
tez da indagação,
Dessa dúvida que cresce e
decresce
Do afago de antes, sepultado
na novidade,
Cuspido pela boca que amava e
já desmerece
O acalanto da íntima certeza
da realidade.
Seja breve, sutil, cruel e
belo
Os espectros infindos da
necessidade
De nossos amparos, de nossas
virtudes e anseios
Confrontados pela animalesca
realidade
Dos anjos e demônios que
habitam os desejos.
E a lua tonta a desmaiar
Segurava-me a mão com um espirro,
Deu-me voltas no cérebro, deu-me calor nas veias
E no chão enfim enamorados,
Pisou-me a razão com uma sutileza de cetim roubado...
Ah! Se minha mão as ventas turvas da lua não segurasse
Ah! Se a viagem o tempo me deixasse...
O Rosto despido
(Oziney Cruz)
E a
caricatura de sempre afugenta
O eu que de mim se despiu
Que se atrai pelas minúcias jogadas ao vento,
Que se veste do lodo empurrado todo dia.
A voz é rouca e na paisagem se espelha
Como a palavra que da vida no espaço
Que mastiga o doce verso nunca lido...
E a caricatura sobrevive no museu,
No deserto, no quarto, no boteco
Na sala solúvel de minha visão,
Que se rodopia, que se estrebucha
Com o novo, com o velho já revisto
E mesmo assim, ainda vive...
E já morre todo dia
E come todo dia, bebe todo dia...
O poeta arranca a caricatura
E no apogeu das coisas sãs
Se joga pela janela mais alta
Ao tombo delicioso para a insanidade
Crua e humana das genialidades.
O Rosto despido
(Oziney Cruz)
E a
caricatura de sempre afugenta
O eu que de mim se despiu
Que se atrai pelas minúcias jogadas ao vento,
Que se veste do lodo empurrado todo dia.
A voz é rouca e na paisagem se espelha
Como a palavra que da vida no espaço
Que mastiga o doce verso nunca lido...
E a caricatura sobrevive no museu,
No deserto, no quarto, no boteco
Na sala solúvel de minha visão,
Que se rodopia, que se estrebucha
Com o novo, com o velho já revisto
E mesmo assim, ainda vive...
E já morre todo dia
E come todo dia, bebe todo dia...
O poeta arranca a caricatura
E no apogeu das coisas sãs
Se joga pela janela mais alta
Ao tombo delicioso para a insanidade
Crua e humana das genialidades.
O eu que de mim se despiu
Que se atrai pelas minúcias jogadas ao vento,
Que se veste do lodo empurrado todo dia.
A voz é rouca e na paisagem se espelha
Como a palavra que da vida no espaço
Que mastiga o doce verso nunca lido...
E a caricatura sobrevive no museu,
No deserto, no quarto, no boteco
Na sala solúvel de minha visão,
Que se rodopia, que se estrebucha
Com o novo, com o velho já revisto
E mesmo assim, ainda vive...
E já morre todo dia
E come todo dia, bebe todo dia...
O poeta arranca a caricatura
E no apogeu das coisas sãs
Se joga pela janela mais alta
Ao tombo delicioso para a insanidade
Crua e humana das genialidades.
Uma página sob a escrivaninha
(Oziney Cruz)
E a voz que grita no
peito, hoje também se cala,
Esconde-se ao espelho e rói a lembrança inda crua,
Transita vagamente pela calçada suja e nua
Que é descanso, que é trabalho, que é morada.
A voz se faz turbilhão, se faz idílio e se faz alento!
Como a fumaça preguiçosa do velho lampião
Que na cozinha se embaraça ao bocejo do ancião,
Com a voz tímida e resguardada do conhecimento.
E o que mais gosto, são os segundos da eternidade
Que a voz sussurra em seu deleite, em seu mundo;
Da glória_ A sucumbência pelo que vem mais fundo
De todos os porões imersos na nossa tempestade.
E são as vozes concretas nos mais puros abstratos!
Nos mais puros sentidos, que se erguem então!
São nossas minúcias de afeto, é a imensidão
Das palavras que morrem nos lábios enferrujados.
E a voz grita no peito
e grita novamente e novamente!
É de se ficar afônico na jornada das vozes nos versos
É inebriante o seu esforço e jornada, nos mais belos
Passos vorazes que crescem lentamente...
(Oziney Cruz)
Lesões
frutíferas de imaginados passos
Inebriam o ar disfarçado dessa
gente...
Que corrompem o que não é do
século,
Que se oculta de tanto falar
que não diz...
O que de novo é devorado pelas
traças
E se eterniza nas rimas, nos
versos livres,
Na boca ainda fria, nas mãos
ainda gélidas.
Lesões imaculadas da torre de vigilância
Anunciam no palco a falência
destes rastros
Que descuidadosos se escondem
na sombra!
Vestígios dos pés na estrada,
da cara no muro
De idas e vindas entre lençóis
e poltronas;
Da ira e do abraço, do beijo e
do corte certeiro
Da poesia e do poeta, da vida
e da morte.
Silêncio
(Oziney Cruz)
(Oziney Cruz)
Tenaz
são as minúcias podres de cada partida
E
são de agrado rústico o isolamento fiel.
Agora
o ser se corrói e já sente o peso dos dias
No
deslumbre imaculado do crepúsculo cruel.
Tardia
se ergue a chama e já cedo é consumida
Como
o risinho faceiro da costumeira e velha esquina,
Como
o calor dos desejos, como a utopia dos sonhos
Que
ao tétrico bocejar dançam a velha valsa na latrina.
De
passo em passo o tempo se vai nas migalhas
Desfalece-se
no grito moado da existência,
E
até o poeta vira a página, fecha o livro
E
morre de tédio na multidão em clemência
Por
tudo e mais tudo que poucos podem ter!
Por
frivolidades tão bem vestidas e maquiadas
Como
bonecas de uma grande peça sem enredo,
Admirando
o embriagar das coisas maravilhadas.
O
ermo então é alcova, gruta, pátio, imensidão!
É
abrigo ao pensamento, à discórdia, ao enlambuzamento
Das
minúcias cada vez mais ricas e mortais à caneta;
É o
Álamo dos sentidos avulsos no pensamento.
Depois da esquina
(Oziney Cruz)
A foto velada na parede invisível
Me revela o outrem da sensitiva falta de se faltar...
Ah! Se me abstrato metafórico tivesse pernas e braços,
Talvez não seria roto... Talvez não teria saudade,
Talvez eu cruzaria o horizonte para fitar inda de longe.
Ah! Como é sonolento e voraz esse silencio oculto
Essa ausência do passado falante, esse trem que me corta os dedos.
Esses trilhos que não andam e que parado grita calado
Que espera o aviso, a noticia, o bilhete, a mortalha enfim...
Me revela o outrem da sensitiva falta de se faltar...
Ah! Se me abstrato metafórico tivesse pernas e braços,
Talvez não seria roto... Talvez não teria saudade,
Talvez eu cruzaria o horizonte para fitar inda de longe.
Ah! Como é sonolento e voraz esse silencio oculto
Essa ausência do passado falante, esse trem que me corta os dedos.
Esses trilhos que não andam e que parado grita calado
Que espera o aviso, a noticia, o bilhete, a mortalha enfim...
O VAGABUNDO
(Oziney Cruz)
(Oziney Cruz)
Ela
morre na saliva insensível da minha indiferença
E aos abraços medonhos, fenece aos gritos...
Eis a alcova imaculada do rastro de minhas tolices
Eis o anfitrião da casa de mentiras que delira...
Eis os versos, eis o instrumento de minha partida...
Ela desmaia de tanto sorrir... Como é angustiante!
Ela me fala em soluços dançantes e eu desmaio de tédio.
Ah! Quanta ausência dela, de ti, de tudo e mais tudo!
Quanta mortalha sobre meu rosto ainda útil.
Ela se entrega ao dono dos aplausos desta semana
Eis um todo dia a sucumbir, a nascer do golfo do cruel infante...
_ Mentira! Mentira... é ela, é ela, é ela, é ela, chame-a aqui.
Tolo sou em minha repartição de espelhos, de estátuas.
E ela morre, na saliva de minha indiferença... na vitrola nunca usada...
Ei-la a escrever os versos, a carta, o anúncio, o dilúvio...
Ei-la a se despejar de mim para um copo beijar... Ei-la a vagar... Ei-la...
E aos abraços medonhos, fenece aos gritos...
Eis a alcova imaculada do rastro de minhas tolices
Eis o anfitrião da casa de mentiras que delira...
Eis os versos, eis o instrumento de minha partida...
Ela desmaia de tanto sorrir... Como é angustiante!
Ela me fala em soluços dançantes e eu desmaio de tédio.
Ah! Quanta ausência dela, de ti, de tudo e mais tudo!
Quanta mortalha sobre meu rosto ainda útil.
Ela se entrega ao dono dos aplausos desta semana
Eis um todo dia a sucumbir, a nascer do golfo do cruel infante...
_ Mentira! Mentira... é ela, é ela, é ela, é ela, chame-a aqui.
Tolo sou em minha repartição de espelhos, de estátuas.
E ela morre, na saliva de minha indiferença... na vitrola nunca usada...
Ei-la a escrever os versos, a carta, o anúncio, o dilúvio...
Ei-la a se despejar de mim para um copo beijar... Ei-la a vagar... Ei-la...
À libertinagem das personalidades...
(Oziney Cruz)
Passa-me esse oco fantasma
pela sala
E Beija-me de tempo infindo,
Arrasta-me por entre os dentes da mortalha
E sutilmente desmente o acontecido...
Deixa-me o papel de cor palpável por sobre o armadilha
É alvo que se mata de tanto matar...
Ah! Que desvario intenso a sua gula silenciosa
De tudo deixado de bom agrado, sem se queixar...
Venha, boca vagabunda, no seio da noite morrer,
Por entre os flagelos do século se enfeitar
E para todas as boas novas do noturno minuto
A língua mentirosa que nos elogia... anunciar.
E Beija-me de tempo infindo,
Arrasta-me por entre os dentes da mortalha
E sutilmente desmente o acontecido...
Deixa-me o papel de cor palpável por sobre o armadilha
É alvo que se mata de tanto matar...
Ah! Que desvario intenso a sua gula silenciosa
De tudo deixado de bom agrado, sem se queixar...
Venha, boca vagabunda, no seio da noite morrer,
Por entre os flagelos do século se enfeitar
E para todas as boas novas do noturno minuto
A língua mentirosa que nos elogia... anunciar.
Ao bocejo das ações
(Oziney Cruz)
Que
estupendo vitupério é o teu bocejar,
Que
se cala e ocioso apenas contempla
Que
se fere, mas da dor apenas lamenta,
E
que se irrita do gosto do vizinho de se mudar.
E
mudemos as mudanças e as entranhas!
Sim!
As entranhas indecorosas da comodidade
Que
a soluços cheios lambe os dedos e de agilidade
Nua
e crua passeia aos destroços dessas mudanças.
E
grita rasgando a garganta o alcoviteiro semanal
Na
praça dos dilúvios mentais da boa fé!
E se
vai e vem no ritmo ridículo do único pé
Que
se tem a caminhar a ideia sempre igual.
Que
estupendo arranjo é o teu bocejar,
Ridículo,
pequeno, mesquinho e débil!
E
enquanto dorme na poltrona de domingo estéril
Aos
berros o mundo vivo cá fora está a gritar!
Ele
está a gritar de fome e não é de comida!
Ele
está a gritar de sede e não é de água!
Ele
está a gritar de desgosto e não de mágoa!
Ele
está a gritar de dor e não é da ferida!
Ah!
Que estupendo são os seus lamentos,
Fosse
talvez da carne, caberia um ombro emprestado,
Mas
é de querer aquilo que não foi então realizado...
Cala-te
a boca! Movimente teus movimentos!
Anatomia
(Oziney Cruz)
Que
teça-me o tempo as abas da infinidade
E em
seu colo me cubra de manto afetivo,
Que
desdobre sobre minhas inquietações
A
pálpebra solene do sono nunca esquecido.
Que
venha em um sopro e num tapa me chame!
E
que meu andar não seja turvo como o pensamento,
Que
o vitupério seja infame e sem rascunhos...
E
que o beijo não mate e não aviva o esquecimento.
Tenho,
portanto os males do século e as curas dos segundos!
Tenho
alcova, boteco, rua, nome, palavras a fio
Mas
que descontenta os nervos e alegra o pulso
E
lascivamente adentra a caverna que pulsa o grito.
Que
corram-me os passos desastrosos de
amanhã
Que
pisem-me os anseios da corrida!
Ah!
Tempo que persegue e descrê de mim
Tempo
de ida e vinda como a dantesca noticia!
Serão
de tudo o silencio inquieto da euforia mordaz!
Da
dança de meu “EU” que se arrasta pelo teto
E
que se decai nas fissuras do piso nunca arranhado
De
meu ser tão distante, tão inquieto...
GOSTO
(Oziney Cruz)
O gosto correu-me o gosto letal
E em
seu rosto menti o carinho,
Fiz-me
“a gosto” de seu querer
De
seu querer que nunca quer nada!
De
sua distancia tão confortante...
Quero
seu gosto sem gosto algum!
Sem
rima e com rima, sem canto e com cantor...
Quero
o salto desprovido da corda
Quero
o gosto doce da fuga...
Quero
seu colo para morrer...
E
que não seja morte da carne
Ou
da sensitiva aguda do arrepio.
Que
seja de gosto melado o atrevimento
E
sutil, o silencio tumultuado das mãos;
Ah!
Que gosto sem nome, sem pernas,
Sem
teto, sem rimas e sem aplausos.
Que
falência, fiel que acompanha o relógio
Sem
cor ou viço do cheiro do meu gosto,
Ah!
Que gosto sem saber, sem o gênio do alimento...
Gosto
sem gosto que te gosto a bom cheiro...
Gosto
dos dias... gosto amargo do
espelho.
CAVERNA
(Oziney Cruz)
(Oziney Cruz)
Grita o peito, na austeridade roca do grito
E já
não mais geme nem se esconde,
Nem
se ama e nem amado é o aflito
Que
ao desdém doou a alcunha de seu nome.
E
sucumbe como o silencio fanfarrão da caverna
E se
volta voraz ao esconderijo da infância,
Onde
atado esteve como messalina à taverna,
Onde
comeu o choro, como ao doce a criança.
Não
vês que o ver já nem mais ver de vergonha?
E
que ao léu se vende como novidade de museu?
Grita
o peito, na sensitiva mediação medonha
De
seus dias mentirosos, na tela mágica desse apogeu
Que
não veio à velocidade de sua intenção!
Que
não limpou os erros com o mágico lençol.
Ah!
Que grito belo ouço então do peito sem servidão
Que
geme de frio na carência tímida do arrebol.
Grita
austero sua fúria de dias sem passado...
Peito
velho, velado a sô na multidão,
Grita
ao caminho que irá de pé descalço
Grita
com vigor o seu amor, embalado na canção.
Janela lateral
(Oziney Cruz)
Duvidoso
o caminho que bate na porta
Como
o beijo que chega á boca muda,
E
por entre os dedos a mão frouxa segura
A
sina sem “s”, que então já nasce morta.
E em
vigilantes passos, se começa o concerto
Enquanto
as vidas se erram lá fora,
Tudo
se faz lindo a quem no poço mora
E
contudo mais se ama o que é incerto.
Vou
livre na jaula do desconhecido
Como
a peregrinação pelo amor perigoso,
Como
o voou indiscreto do olhar desejoso
Que
passeia flutuante pelo gosto esquecido.
E se
quebra o quebrantamento em dois aís!
Em
dois gestos fiéis ao silencio da penumbra,
Quando
o caminho se rasga e se afunda
Na
garganta, mostrando suas duas partes iguais.
E se
volta ao mesmo caminhado passo!
A
memória é tombo cruel ao adormecido
Que
na ausência se lambuza do prazer escondido
E se
bebe inteiro, como última gota do frasco.
Quero
então o que é dito por entre os gestos!
E no
silencio saberei a verdade de antes...
Fartar-me-ei
dos vestígios a mim delirantes...
Dos
mais humildes e gigantescos afetos.
BARCAÇA n° 1
(Oziney Cruz)
Não sei se és mentira
E se
és ou fostes não respira!
Não
sei se mais indolente se abraça...
E se
abraça, aviva esse devaneio sem graça.
Estremece-se
e arqueja no verão
E
mesmo assim sendo um flerte em vão
Mesmo
sendo a volta, instila-me a morrer,
E se
morte és, beijo sois do meu querer.
Leve
salto agudo de nostalgia,
Leve
pouso e austera semente d’alegria,
Lânguido
suor de frieza e tão viril...
No
adormecer ébrio de um roto sonho de anil.
BARCAÇA n° 2
(Oziney Cruz)
Como
dormes tranquila e noturna nessa volúpia
De segredos rotos,
E
atada ao véu de sua graça e astuta malícia
Ébrios sem escrúpulos.
E
dormes mais ainda no seio vagabundo
Da fiel meretriz
Ao
toque suntuoso do patrão cruel e imundo
Que ri-se feliz...
Olhe
sua desgraça imaculada e seus servos
De tédio a bocejar,
Olhe
a esquina que se beija com o lindo brejo
Da amante a sonhar
E
como sonha, como suspira! E que desdém
De desgosto apurado
Lhe
serve de banho e debochado réquiem
No tumulto calado.
Mas
ah! Dormes tranquila peregrina fulgência
Nesse vazio de visão,
E
quem sabe por entre os dedos da maliciencia
Não acordes então...
Contudo,
que seja graciosa como eterna companhia
E ébria como dantes,
Que
carregue sobre os gélidos e tépidos a melodia
Enamorada dos amantes.
BARCAÇA
N° 3
(Oziney Cruz)
Olha-me
o risinho na face
Que
o tempo não curou
E de
soberba e tal engano
Fez-se
flor sem pudor...
E se
mesmo há! És oculto,
Disfarçado
e amarelado;
Fugindo
do lodo e do assombro
Das
bocas e do desdém calado.
Não
se engane com os dias!
Que
dia não há sem dia...
Que
não seja inoperante e atroz
Que
não dance e fume a melodia,
A
melodia invisível dos boatos!
Das
línguas tagarelas,
Das
mentiras bem contadas
Da
volúpia acre nas mazelas.
Olha-me
o risinho na face
Que
o tempo não curou
E de
gula e tamanha gula
Das
vírgulas, me acabou...
E se
sinto, mais tolo devo ser!
Com
os punhos cerrados,
Com
o movimento calculado
Vivo
de sonhos atados.
E
toda essa vivencia do viver
Donde
vem peregrina?
Onde
pousa o hálito de mel?
Onde
pousa, criatura cruel?
Será
na atitude dos altivos
Ou
na confusão dos ébrios?
Ou
será que vive resmungando
Nos
adjetivos crus e velhos?...
Olha-me
o risinho na face
Que
o tempo não curou,
São
espinhos pobre criança...
Que
o ponteiro não levou.
Fascinação
(Oziney Cruz)
A R
A R
Face
que me transluz, face de minha vida
Por
onde meus dedos tocar não atreveram,
Etérea
formosura de meu tempo que cintila
A
mais bela essência daqueles que a vejam.
Flor
de campos que pés nunca pisaram,
Mãos
de cetim e veludo nos pés a andar,
Tons
ensolarados nos olhos que piscavam
Quando
gentilmente a brisa vinham os tocar.
Inda
tens os astros a lhe iluminar enamorados!
E
Inda brumosas as palavras a lhe saudarem
Como
o mais belo entre os cantos ordenados.
Quando
de súbito teu canto vem-me ao ouvido
E
mais sublime que as aves a vida a cantarem!
És
tua voz, minha melodia, e meu lugar seguro.
Anseios
(Oziney Cruz)
A.R
(Oziney Cruz)
A.R
Quem
dera-me estar entre os convivas
Deste
banquete folgado de riquezas,
Participar
das orgias reais destas vidas
Que
vivem ocultas ébrias sobre as mesas.
Quem
dera-me num instante de ventura
Beber
deste vinho que nos é furtado,
Taça
a taça sentir a distinta formosura
Do
hálito mentiroso deste mal agrado.
Se
não for por mérito real grandioso...
Que
não seja oculto sob um tapete
As
grandes realizações de falso gosto
A
punhos tiranos de envenenada beleza.
E em
meio aos patriarcas desse ninho
Gorjear
o brado do ferido eu hei de fazer,
Vesti-me
da inocência de um menino
Ao
combate suntuoso de bem querer...
Daquele
que pranteia aflito por fome!
Daquele
que é deixado a só esquecido,
Ao
roto de veste, que só tem o nome,
Ao
ancião com um olhar triste e ferido...
Ao
jovem que morre em seu silêncio...
Ao
estandarte de uma graça maculada,
Ao
sorriso que corre ao rosto trêmulo
E à
vida que anda fadonha e sem graça.
Os Passos...
(Oziney Cruz) A.R
Aonde vão estes passos pensativos pela noite
Onde a ânsia dilacera o grito na garganta?
Aonde pisarão indolentes a vagar e a vagar...
Os passos que semeiam uma tétrica dança?
A quem visitarão esses passos desgostosos
Com tamanha mudez, com tamanha lamúria?
Por quem andam duvidosos ao grande destino
Os passos sem nome, escondendo a ternura?
São passos de ontem, passos lânguidos de hoje,
São passos que sussurram no arrasto_ o amanhã.
São passos de um coitado, de um pobre confuso
São os passos que seguem por uma estrada vã.
Vão descalços os passos em rústicos calçados
E quietos tremem os espinhos que se erguem,
Quando em um tombo sentem a amarga dor
Os passos daqueles que também se ferem
Recônditos no leito suave ao som da chuva
E que riem ao brado viril da tempestade,
Daqueles que nada falam, mas que tudo dizem,
Daqueles que anseiam uma gota de felicidade.
São passos que se foram, que se vem, que se vão
No ritmo melindroso dos ritmos de tudo...
De tudo que se sonha, de tudo que se desespera
Nos passos que andam no grande palco desse mundo!